Acordei; coloquei os pés na cerâmica fria, vermelha - que apesar de uma espessa camada de cera não isolava o desconforto térmico - fui até a cozinha, peguei um copo americano e deixei a água publica transbordar, sorvi avidamente, pois a ressaca da noite anterior fazia suas exigências; no banheiro coloquei o creme dental nas cerdas de nylon macias, sentei na louça da privada colorida - um verde suave - enxaguei a boca para tirar o gosto de menta e esfreguei papel jornal para limpar as nádegas;
Voltei à cozinha com o mesmo copo que havia refrigerado o mal-estar da bebedeira, coloquei vinho húngaro do garrafão de cinco litros;
os vidros diáfanos permitiam que a luz matinal inundasse a pequena peça, fui atraído pela enchente de ondas coloridas outonais e abri a porta; a natureza se revelava em cores dos mais variados tons, nuances e vivacidade; não tive duvida, corri de volta para a casa e enchi dois litros de vinho numa garrafa pet...
Sob a égide do astro-rei , comecei a caminhar pelas lajes assimétricas, entre goles de vinho irregulares, mas vorazes; quando a garrafa pet ficou pela metade, deparei-me com uma escadaria, que parecia infinita, talvez tivesse saído de um sonho; estupefato encostei meus lábios maviosamente na garrafa, consumindo boa quantidade do liquido carnil;
Resolvi descer a escadaria, que não vinha à lembrança, à evocação; certamente não era alucinação; desci uns trinta degraus; a sola de meu sapato batia secamente na cor ouro das bases da escada, talvez mica esculpida pelas mãos de seres mitológicos ou bêbados santificados; já no subterrâneo peguei um candeeiro que estava alçado no túnel que iniciava no fim das escadarias;
Movido pela curiosidade e o encorajamento alcoólico, segui para dentro do túnel, calculava estar numa profundidade considerável da calçada de onde tinha partido ao desconhecido; caminhei algumas centenas de metros, esgotando todo vinho húngaro;
Na extremidade do túnel uma luz se espargia sobre um bosque de olmos, carvalhos - um odor e sabor inefáveis se expandiam pelos sentidos; dei vários passos entre as árvores, sobre a grama de um verde transbordante - uma paisagem bucólica, pastoril, digna de uma écloga - parecia que a qualquer momento surgiriam faunos, ninfas, silenos;
Atrás dos carvalhos e olmos, paradoxalmente,como um cogumelo instantâneo surgia um bar encarnado - ofuscava os olhos - quebrava a harmonia natural; um letreiro de roxo berrante sobre o vermelho dizia:
BAR BUKOWSKI - só para iniciados
Dei uma volta no entorno e sentei - logo se aproximou um garção, trajado meio estilo soldado do filme Rin Tin Tin, meio parecendo um metaleiro anfetaminado perdido na natureza; solicitei imediatamente um whisky on the rocks - junto a janela, fiquei algum tempo sorvendo o malte e olhando a arcádia paisagem;
Alguma coisa pressionava meu sexto sentido, sentia que estava sendo vigiado; virei-me e enxerguei uma morena de olhos pretos, com jeans de um azul celeste indescritível, com pássaros bordados de fios de ouro; secamente, seus olhos me abduziam, convidavam para uma iluminação sexual, um insight selvagem, alguma coisa indefinida mas que trazia augúrios de prazer e perigo;
Dei um sorriso e levantei o copo a cumprimentando - o garção se aproximou e solicitamente pedi mais um whisky - porém o idílio sexual que se insinuava foi interrompido por uma voz máscula, forte que grasnou:
-Chefe..
Não tive tempo de olhar em direção a voz, somente senti uma garrafa de cerveja estourar no meio do cérebro; sangueira total - escorria e se derramava como uma catadupa em meu blusão de marinheiro, agora maculado, manchado - mas estranhamente sentia-me bem, não sentia dor; estava bêbado, ensanguentado e lucido;
Lembrei-me de um conto de Bukowski e resolvi não revidar e como o velho safado convidei o agressor e seu acompanhante para se juntarem a mesa; o garção rapidamente trouxe o Jack Daniels por mim solicitado; três copos se encheram rapidamente e da mesma forma foram esvaziados;
Quando a bebida formal acabou - o capanga do agressor puxou do bolso interno do casacão uma garrafa escura sem rotulo, com tampa de rosca - sem falar nada, derramou um insólito líquido roxo nos copos vazios; o virulento colocou um olhar frio e enérgico, impondo uma ordem silenciosa que eu deveria engolir o fluido;
A morena de jeans havia sumido - comecei absorver sucessivos copos do líquido estranho - os objetos começavam a se distorcer- psicodelia total - cores se misturavam, para depois se separarem e recombinarem; num determinado momento, senti que iria perder a coordenação, precisava agir, senão viraria churrasquinho dos brutamontes;
Juntei todas as minhas forças e consegui ir até o banheiro, por sorte havia uma janela basculante na qual poderia escapar - corri tortuosamente pela grama, entre carvalhos e olmos, até chegar a entrada do túnel, respirei por uns instantes - enquanto tudo se distorcia e se recompunha;
-Ei, vou lhe ajudar a sair daqui, pode se abraçar em mim...
A morena estava me esperando; coloquei o braço em volta da sua cintura esbelta e exotérmica; fiquei contaminado pelo calor ébano de sua derme; atravessei o túnel como um cego guiado por seu labrador - finalmente subimos as escadas para o mundo real;
Chegamos em casa, bebemos o resto do garrafão de vinho húngaro, consumimos ervas olorosas, rolamos na cama, copulamos, abri uma garrafa de licor africano, copulamos mais uma vez, dormimos lânguidos, esgotados e bêbados;
Amanheceu - o lençol estava manchado de roxo e vazio - ela já tinha indo embora, como nos filmes; pensei, enquanto a luz ocupava a casa - a vida está ficando perigosa e estranha, hoje não vou sair, ficarei de resguardo - comecei a ouvir leonard bernstein a reger mahler...
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POESIA DE VÔMITOS
Regurgito
Digiro Bukowski
Digiro Bukowski
Rumino Nietzsche
Exalto a Surra que Rimbaud Deu em Verlaine
( par Amour )
Bebo Vorazmente
Absyntho & Extratos Peçonhentos
Absyntho & Extratos Peçonhentos
Para Deter
Meu Impeto Suicida...
Meu Impeto Suicida...
Erguerei Infinitas Barricadas
Em Paris
Em Paris
Incendiarei Todas as Bastilhas
Comerei Fogo
Beberei Plúmbeo Derretido
Beberei Plúmbeo Derretido
Colocarei meus Neurônios na Guilhotina
Imolarei meu Corpo
Subirei Nu o Everest
Tudo em Nome da Santa Liberdade
Em Nome de Todas as Liberdades...
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O Tímpano da Loucura
Uma Aspirina Para Van Gogh
Os Girassóis e a Tela em Oléo
Os gigabites nas telas de LCD
As Brasas Vermelhas no Fogo
Os Verdes Pasteis e as Árvores Gálicas
O Vinho Carnil na Mesa Rústica
A Natureza Morta
A Revolta Viva
A Orelha decepada
A Natureza Morta
O Absinto e a Távola
Os Moinhos e Tamancos
O Mergulho nas Águas da Alma
Sua Casa É o Louvre
Como o Ouvires Prefere o Amarelo
Solidão e Depressão
Vertigens e Prostitutas
Convivem com Belos Trigais
Lá Vão Eles Abraçados e Grogues
Gauguin e Van Gogh
O Lume das Estrelas
Aves Negras e Insanas
A Força da Natureza
O Instinto do Lobo Selvagem
VAN GOGH
Se Tua Dor Encefálica Ainda Não Passou
Ácido Acetissilico e Penicilina...
Uma Prótese...
Uma Orelha de Silicone...
Uma Prostituta Profissional ...
Em Último Caso...
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INVERTENDO O NADA
(Niilismo Fatal)
O Poeta está Livre
Para Viajar nos Ventos de Quixote
Para a Loucura,
Das Amarras do Contrato Social:
- Se Rousseau Tivesse Razão seus Livros seriam Inúteis...
Por enquanto o Poeta caminha pelas agruras
Do Pão e dos Versos
A Carne Tem Sua Lógica
Nas Ruas, Nas Sarjetas, Nos Esgotos do Mundo...
O Demiurgo das Palavras Embriagado Vai Com o Vento
Pelos Caminhos Impostos, Pelos Genocídios Ocultos
Seu Tempo Não É Dinheiro,
Sua Guerra É Justa
Sua Santa Prostituta...
Um Profeta de Tempestades de Sentidos
De Anúncios, de Augúrios, de Vaticínios...
Voou para os Braços da Veneta,
Ao Asilo do Álcool e da Cocaína,
Sua Luta É Inglória, Sem Razão...
O Suicídio a Curto Prazo É a Solução...
As Flores do Mal Povoam Seu Jardim,
Baudelaire & Paraíso Artificiais,
Blake e Seu Casamento do Inferno com os Céus
São a Redenção na Linha de Tempo Biológica...
O Poeta Caminha Sem Destino
Há Muito Perdeu o Oriente no Ocidente
Só Deseja um Narcótico Denso
Para Esquecer
Para Sonhar
Longe dos Homens...
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Maxikoan - Método de Uma Nova Era
ORA, SERES HUMANOS:
A convenção das convenções é a eternidade...
O antropomorfismo joga palavras no universo como soubesse as
regras que regem a sintaxe e a semântica da natureza...
regras que regem a sintaxe e a semântica da natureza...
A eternidade flui, metamorfoseando-se e ironizando a si mesma...
Rimbaud na sua sabedoria virgem, intuitiva
Descobriu a eternidade…
A Eternidade é o sol e o mar
O Sol e o Mar é a Eternidade...
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