terça-feira, 1 de julho de 2014

BAR BUKOWSKI - Parte 3 - Teoria, Ménage à Trois & Evolução...





Teoria, Ménage à Trois & Evolução...







Quando ouvi a palavra diletantismo pela primeira vez, estava explanando sobre o início do universo - O Big-Bang. O ambiente era um bar na parte central da cidade. A palavra me incomodou. Antoine um professor francês da universidade estatal - estava extremamente bêbado. Pronunciou a palavra para me incomodar:


- Não entendo nada do que você fala, mas o ouço por diletantismo. 


Não esperei sua expectativa de me ver perturbado e interferir na exposição sobre o Big-Bang. Passei o braço por cima da mesa como um rodo num chão lambuzado. Garrafas de cervejas, copos de whisky, acepipes e celulares voaram para as lajotas pretas. Os outros que ocupavam a mesa assustados, levantaram e se afastaram. A minha irracionalidade extrema conflitava com a exposição lógica-matemática. Consegui deter minha noite de fúria com alguns goles extremos de cerveja. Os ouvintes, apesar do controle, foram se despedindo, deixando-me solitário na mesa reabastecida. Era um exercito de bebidas alcoólicas que tinha que bater.






Os funcionários do estabelecimento começaram o movimento que antecede o fechar das portas. O gerente dirigia um olhar de estamos fechando. Tomei duas doses de whisky e joguei meu cartão de crédito em direção do caixa. A funcionária abaixou-se para pegá-lo. Debitou o valor do consumo e devolveu o quadradinho plástico num porta-documentos de prata. Antes de sair pedi que colocassem umas cinco doses de Grant's em um copo de plástico. Os pés começaram a vencer o passeio na noite citadina. Uma parede roxa com letreiros vermelhos e um amontoado de pessoas na frente exerceram um poder de gravidade. Era um imã puxando uma agulha. No pensar alcoólico-racional vieram muitas justificações para continuar a noite. O PUB temático fazia uma homenagem ao filme Laranja Mecânica. Dentro do estabelecimento uma jibóia enrolada no pescoço de uma mulher ébano. O garção atendeu minha disposição alcoólica tantálica, da vontade do eterno retorno etílico. Entre goles de tequila e copos de absinto fiquei encantado pela morena e sua boa constrictor.







Logo me senti enturmado no ambiente. Um "inferno" e todas as suas benesses. A garota da jibóia possuía uma cintura esplêndida que me cativou. Sua cintura equivaleria ao nariz de Cleópatra - Um fetiche. Entre doses e olhares fiquei obcecado. O olhar foi interrompido quando um habitue do bar me abordou. Na realidade, queria vender algum tipo de droga. Comprei algumas doses, fui ao banheiro sujo que misturava cheiro de naftalina com urina. Coloquei algumas carreiras encima da tampa da privada e inspirei o pó andino. Retornei ao centro dos acontecimentos no PUB. Ouvia-se os grunhidos de Johnny Rotten e uivos desafinados dos seus comparsas. Sentei junto a mesa e logo consegui avistar novamente a garota da cintura esplêndida. O vapozeiro sentou do meu lado e perguntou o que eu tinha achado do seu produto:


- Nice... Ótimo...


Ele notou meu interesse pela garota, pois olhar era fixo em direção a ela:



- Não me leve mau, mas se você quiser posso chamar a garota para vir sentar aqui.

Comecei um dialogo etílico-tóxico com Myrna. Era assim que a cinturinha esplêndida se chamava. Começamos a virar copos. Seu olhar indicava carta branca para avançarmos de fase, mas antes de sair do PUB, tive que comprar mais neve do vapozeiro.






Caminhávamos pela longa avenida central alternando doses de whiskys e inspirações de flocos de neve e com a jibóia enrolada no dorso de Myrna. Chegamos a uma escadaria paralela a um antigo viaduto decadente. Já passava da 1:00 hora da madruga. Myrna queria fazer sexo na parte mais alta da escadaria. Queria fazer sexo com a boa constrictor. A condição etílica-toxicológica da minha mente não colocou empecilhos. Chegamos ao ápice da escadaria. Começamos o ménage à trois. Nus a uma temperatura de 6º C na solitária madrugada ventosa. Preenchemos o vazio da cidade com nossos corpos sem controle, com nossos pensamentos e desejos libidinosos. Era essa nossa contribuição para a evolução da humanidade, do planeta sustentável, para a integração do homem e o animal. Depois de 13 bilhões de anos, desde o Big-Bang, era essa minha contribuição. As teorias, os cálculos e milhares de horas e leituras me pareciam insignificantes diante a experiência inusitada. Pensei seriamente em jogar o corpo no vão de 30 metros de altura, mas a língua morna e rosada de Myrna e seu sexy-appeal salvaram a mediocridade de minha vida de cientista, de teórico; sob o auge de um entusiasmo dionísico, prometi para M. e sua jibóia que constituiríamos uma família inexpugnável...







 

 

domingo, 2 de fevereiro de 2014

BAR BUKOWSKI - Parte 2 - O Existir é o Nada Composto



O Existir é o Nada Composto





O existir é o nada composto

A eternidade é o nada simples

II

O que recebo pelos sentidos não encontro

no reflexo

No sentido imediato...

III

Estou preso ao passado

Nada Flui

O rio congelou

A redoma é eterna

Num amanhecer lúgubre 

III

A catadupa silenciou

Como o pássaro sem primavera

Como a loucura bêbada

Como a veneta tóxica



IV

Não existe mais o céu

As estrelas conspiraram

O sol dormiu nas mutações de Morpheu

Tudo agora é um breu fétido

V

Fiquei perdido nos pântanos de Dante

O último cometa se aproximou

Profecias de Nostradamus 


VI

As sagradas escrituras revelam o apocalipse

Na ceia um prato de lentilhas

&

A cabeça de São João Batista

em bandeja de Prata



VII

Em nome da rosa - O segredo

As gazuas soltaram os demônios

Dou os últimos suspiros

Aves de mau agouro gorjeiam:


Idus Martiae...  Idus Martiae... Idus Martiae..




VII

O metal bruto atravessa meu manto romano

O sangue derrama todas as misérias

No leito da última e terrível noite...

Em breve brindarei com absinto 

Taças de cristais, Baudelaire, Rimbaud

&  porque não?

O diabo...



O DRINK DE SATÃ



Uma garrafa de vinho vagabundo, uma garrafa de guaraná e gelo a vontade - ou como chamo: Drink de Satã.  A ressaca é certa, provavelmente, não levantarei pela manhã. Tomarei ácido acetilsalicílico para amenizar a revolução figadal. Contudo, somando, diminuindo, equacionando, com todas propriedades fundamentais, o saldo é positivo. O resultado é uma felicidade existencial possível, fugaz, mas que permite o pensamento desviar do Thanatos. A felicidade existencial efêmera se diferencia da felicidade das ovelhas massificadas e imitadoras que seguem o padrão ditado pelo mercado, pela religião. Consumir e orar a isto se resume o homem padrão capitalista. Consumir por consumir e esquecer Thanatos. Orar para esquecer o pecado de consumir por consumir - Eis um circulo vicioso que não tem fim. O paraíso jamais chegará, as utopias se dissolveram na engrenagem alimentada pelo egoismo humano. Portanto não condenem a felicidade fugaz da alcoolemia. 



O Drink de Satã é bebido para preencher o espaço-tempo quadridimensional e alavancar outras dimensões que são relatadas nos escritos. Aos poucos o álcool pandemônico vai chegando ao cérebro, invadindo os neurônios. Agora é o senhor da situação, causa pertubações em toda a rede de inspiração. A lógica sai prejudicada, mas existência invertida de Espinosa ganha  a imanência do ser. O papel em branco aos poucos vai ganhando palavras em busca de semântica, a isto, chamo de Maxikoan, um projeto de descobrir as entranhas do ser, mesmo que para tal, o ser vai ser destruído. O cientista não difere do religioso, os dois precisam da crença para verem suas maquinas funcionarem. O axioma dá vida no laboratório e a medida que a tese resiste a novos experimentos, mais perto ela está de caducar. Já o religioso vai adaptando o seu dogma no tempo secular, a práxis se impõe, mas a vontade de fugir do thanatos faz da oração o eterno. As ilusões são a saída para o ser humano sublimar - arte, ciência, religião, mito, filosofia são farinhas do mesmo saco. 




Heidegger tentou colocar o santo, o cientista, a dona de casa, o presidiário, etc.. dentro do involucro do Ser-Ai-No-Mundo. Esteve certo até ser descoberto o Drink do Satã que possibilita escapar do ser perseguido pela filosofia. Eu só sou porque não sou. Eu só sou homem porque não sou cavalo e só não sou o Daisen de Heidegger porque tomo o Drink de Satã. Então seres humanos comuns que aceitam a capa ideológica do escravismo conceitual e existencial, não fiquem perplexo diante meus escritos. Assim como a eternidade meu método sem método, ou seja, o Maxikoan, também é efêmero. A todos que querem sair do ramerrão do consumo, da oração, da ciência, da filosofia, da hermenêutica - Ofereço meus escritos para a cura definitiva.
  





PSEUDO-POEMA PARA 
TODOS BÊBADOS DA AMÉRICA
EM ESPECIAL:






O figado se arrasta pelos bares da cidade

Garrafas se esvaziam automaticamente no rastro

A existência depende do copo, da botelha e do Álcool

A felicidade é o nível de alcoolemia

Os bares da América nos recebem com orgulho

Para a tristeza de nossas mães...






Navegamos por rios de vômitos 


Oceanos de loucuras

O vento nos move em direção ao iceberg 

Somos funâmbulos sobre o fio da navalha 


Um deus pagão nos protege sob o sol de Hemingway

Em nossa sina perdemos a razão...

Nossa batalha é diária

Whisky, vodka, vinho não importa

Somos nossos próprios inimigos

Nas trincheiras de Bukowski 


Não temos heróis nem ídolos

Somos iconoclastas que derrubam garrafas

 Atores do teatro do absurdo

Personagens sem Script...